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quinta-feira, maio 23, 2024

Era a gente se amando, e os vizinhos acordando


Por Enéas Bispo

Na calada da noite, sob o manto estrelado,
Era a gente se amando, em segredo, calado.
O mundo lá fora, em seu sono mergulhado,
E nós dois, entrelaçados, pelo amor acordado.

Era o sussurro do vento, era o gato no telhado,
Era a gente se amando, e os vizinhos acordando.
Com o canto dos grilos, um concerto improvisado,
Nossos corpos em harmonia, ritmo não planejado.

Na penumbra do quarto, o tempo parecia parado,
Era a gente se amando, o universo ao lado.
Mas o raiar do dia, aos poucos anunciado,
Trouxe o mundo à nossa porta, o encanto revelado.

Era a gente se amando, e os vizinhos espantados,
Com o brilho nos olhos, o amor declarado.
Na dança dos amantes, o silêncio é quebrado,
Era a gente se amando, e o novo dia abençoado.

sexta-feira, outubro 15, 2010

MOMENTOS DA ETERNIDADE

Quando a fotografia foi descoberta e apresentada em 1839, de imediato foi a sua patente disponibilizada ao público, tal o potencial que lhe foi reconhecido. Na França e no Reino Unido, discultivelmente em simultâneo, Louis Daguerre e Henry Fox Talbot, sem conhecerem os esforços um do outro, descobriram a solução para «fixar a sombra», abrindo possibilidades a quantos, com imagens precisas e definidas que o novo invento permitia, fossem à descoberta de um novo mundo ou procurassem preservar numa imagem aquele que conheciam.
O processo fotográfico conhece de imediato uma adesão maciça e, apesar da sua difícil portabilidade, o mundo é esquadrinhado por quantos se aventuram, carregados de máquinas e laboratório, a registrar o que é belo e diferente, cruzando-se com os que no novo processo vêem uma oportunidade de negócio na democratização do retrato, até então um exclusivo de quem detinha poder econômico.
A necessidade de registrar eventos era cerceada pelas limitações técnicas, mas não deixava de ser tentada. Das batalhas ficavam os registros da chuva de balas de canhão ou os mortos que jaziam. Dos que batalhavam ficavam retratos garbosos, feitos em acampamentos das tropas, precavendo o eventual e prematuro encontro com a eternidade. Dos conspiradores ficaram retratos, olhares fortes em frágeis placas de vidro. Dos que partiam ficava um semblante gravado numa placa espelhada. Havia um novo mundo a ser descoberto, havia que preservar a memória do que desaparecia, e a fotografia afirmou o seu papel vital da máquina do tempo.
As lentes observavam o pitoresco, como a marca do tempo nos homens e no que por eles fora construído, o importante, como grandes feitos ou pessoas, e aquilo que era considerado belo. Mais tarde, quando a fotografia já havia entrado no quotidiano, lançado a imagem em movimento e encontrado eco em novas formas de impressão, as objetivas começaram a ter causas como filtros, a criar novos simbolismos, a mostrar momentos altos da História, em contraponto com atrocidades que não podem ser escondidas.
Enquanto milhões de imagens são disparadas por amadores que não querem esquecer os marcos do quotidiano, outras são criadas para nos seduzir sobre temas ou produtos. Ao mesmo tempo, jornalistas, munidos com máquinas fotográficas progressivamente mais capazes, prescindem do conforto e arriscam a vida, para que possam mostrar excertos de sofrimento e injustiça, muitas vezes publicados adjacentes a faustosos anúncios.
Os milhões de imagens feitas e por fazer geram rios de palavras, ensinando técnica fotográfica e refletindo o efeito das imagens. Roland Barthes, John Berger, Susan Sontag, Robert Adams, entre outros, enriquecem os olhares sobre um espólio que o tempo torna mais nosso e valioso.
A cada disparo, de centésimo de segundo, vamos fixando o presente que a fotografia nos ofereceu: um minuto de eternidade.

Texto.: RUI COUTINHO - Notícias Magazine/Lisboa
Foto.: Enéas Bispo de Oliveira