quarta-feira, outubro 18, 2023

Síndrome de Florença: quando a arte provoca emoções extremas


Por Enéas Bispo 

Florença é uma cidade italiana famosa por sua riqueza cultural e artística, que atrai milhões de turistas todos os anos. No entanto, para algumas pessoas, a visita a Florença pode se tornar uma experiência traumática, causando sintomas físicos e psicológicos que variam de ansiedade a alucinações. Esse fenômeno é conhecido como síndrome de Florença, síndrome de Stendhal ou hiperculturemia.

A síndrome de Florença foi descrita pela primeira vez pelo escritor francês Stendhal, que em 1817 relatou ter sentido palpitações, tonturas e desmaios ao contemplar as obras de arte na Basílica de Santa Croce. Ele escreveu: "Eu caí numa espécie de êxtase, ao pensar na ideia de estar em Florença, próximo aos grandes homens cujos túmulos eu tinha visto. Absorto na contemplação da beleza sublime... Cheguei ao ponto em que uma pessoa enfrenta sensações celestiais... Tudo falava tão vividamente à minha alma... Ah, se eu tão-somente pudesse esquecer. Eu senti palpitações no coração, o que em Berlim chamam de 'nervos'. A vida foi sugada de mim. Eu caminhava com medo de cair."

Apesar de Stendhal ter sido o primeiro a relatar sua experiência, ele não foi o único a sofrer desse mal. Desde então, centenas de casos foram registrados, principalmente entre turistas estrangeiros que visitam Florença. A síndrome de Florença foi reconhecida como uma doença psicossomática em 1979, pela psiquiatra italiana Graziella Magherini, que estudou 100 pacientes que foram internados no hospital após visitarem a Galeria Uffizi. Ela observou que os pacientes eram em sua maioria homens, entre 25 e 40 anos, com boa escolaridade, viajando sozinhos e com interesse artístico. Ela também notou que a síndrome não estava relacionada a determinados artistas ou obras de arte, mas à intensidade da emoção provocada pela beleza.

A síndrome de Florença pode se manifestar de diferentes formas, dependendo da sensibilidade e da personalidade do indivíduo. Em alguns casos extremos, o indivíduo pode tentar agredir ou destruir a obra de arte que lhe causou o transtorno.

A síndrome de Florença é um exemplo de como a arte pode afetar profundamente a mente humana, ativando emoções e memórias que normalmente são reprimidas. A exposição a obras de arte extraordinariamente belas pode gerar um choque entre o real e o ideal, entre o cotidiano e o sublime, entre o familiar e o estranho. Essa ruptura pode levar a uma crise existencial, que pode ser superada com apoio psicológico ou farmacológico.

A síndrome de Florença é uma doença rara e temporária, que não deve impedir as pessoas de apreciarem a arte. Pelo contrário, ela mostra o poder da arte de nos fazer sentir vivos e conectados com algo maior do que nós mesmos. A arte é uma forma de expressão e comunicação que transcende as barreiras culturais e linguísticas. A arte é uma fonte de prazer e conhecimento que nos enriquece como seres humanos.


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