Foi Nobre e foi Nobel! Nobre nos gestos e na elegância da cada poesia terminada, mesmo que a poesia fosse inquieta, perturbadora, daquelas que tira você da quietude natural. Foi Nobel e Nobel não me espanta, o Nobel é apenas para sublinhar o que já era grande, Wislawa era grande, grande personalidade e grande na obra que produziu e deixou para a humanidade.
Chamavam-na de Mozart da Poesia, eu particularmente não gosto de comparações, alusões e paralelismos, ela era ela mesma, mesmo no espanto daqueles que ficam sabendo que ela começou a fazer poesia aos 4 anos de idade. Cada um para o que nasce, o tempo é apenas um aliado ou inimigo, tudo depende da sorte que a natureza nos dota. Enfim...
Quer saber mais sobre a Wislawa Szymborska? Leia os livros desta moça que nos deixou e se foi do planeta azul e deve está compondo poesias para anjos, se anjos apreciam poesias.
Tradução: Ana Cristina Cesar
Quarto do suicida
Vocês devem achar, sem dúvida, que o quarto esteve vazio.
Mas lá havia três cadeiras de encosto firmes.
Uma boa lampada para afastar a escuridão.
Uma mesa, sobre a mesa uma carteira, jornais.
Buda sereno, Jesus doloroso,
sete elefantes para boa sorte, e na gaveta - um caderno.
Vocês acham que nele não estavam nossos endereços?
Acham que faltavam livros, quadros ou discos?
Mas da parede sorria Saskia com sua flor cordial,
Alegria, a faísca dos deuses,
a corneta consolatória nas mãos negras.
Na estante, Ulisses repousando
depois dos esforços do Canto Cinco.
Os rnoralistas,
seus nomes em letras douradas
nas lindas lombadas de couro.
Os políticos ao lado, muito retos.
E não era sem saída este quarto,
aos menos pela porta,
nem sem vista, ao menos pela janela.
Binóculos de longo alcance no parapeito.
Uma mosca zumbindo - ou seja, ainda viva.
Acham então que talvez uma carta explicava algo.
Mas se eu disser que não havia carta nenhuma -
eramos tantos, os amigos, e todos coubemos
dentro de um envelope vazio encostado num copo.
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