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sexta-feira, dezembro 16, 2011

Quem tem uma mãe tem tudo?

© Todos os Direitos Reservados 

Por Ana Cristina Leonardo*

"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes são-no cada uma à sua maneira", escreveu Tolstoi, o maior. Anna acabaria mal, como se sabe, embora nada no romance do russo nos permita estabelecer uma relação direta entre adultério e suicídio. Seguindo Nabokov, Anna Karênina não é um tratado sobre as consequências funestas da infidelidade conjugal, antes uma exposição moral sobre os limites do "amor carnal" enquanto alicerce da felicidade familiar.
Outra visão da família, muito menos otimista, foi avançada por Ken Loach em "Family Life", filme de 1971 que relata o processo da degradação de Janice, uma jovem que se vai afundando na loucura, enquanto os pais (sobretudo, a mãe), incapazes de se porem em causa e pensando ajudá-la, a empurram mais e mais para o abismo da esquizofrenia.
Deixando de lado Engels, "Origem da Família, da Propriedade e do Estado" (ensaio que, devo confessar, varri completamente da memória), o fato é que a família, nas mais variadas formas, vem constituindo uma estrutura social fundamental.
A esquerda, grosso modo, gosta de olhá-la como essencialmente repressiva e castradora - uma espécie de força de inércia que detém o avanço social -, enquanto a direita prefere prestar-lhe homenagem, considerando-a o alicerce do desenvolvimento individual. Margaret Thatcher, por exemplo, não hesitou sequer em afirmar que "There is no such thing as society. There are individual men and women, and there are families."**
Inegável é que a coisa se complicou muito com a entrada das mulheres no mercado de trabalho (num curioso processo em que a emancipação feminina deu as mãos à "boa e velha ganância capitalista"). À visão dourada dos "bebês pioneiros", entregues  aos cuidados de instituições pedagógicas profissionais, somam-se as escolas/depósito, o encolhimento das famílias ao mínimo denominador comum, a ascensão das crianças e jovens ao status de consumidor... Numa frase, parafraseando Roth e pensando nos motins ingleses: talvez seja chegada a altura de começar a falar a sério.

*Atual/Expresso
**Não existe essa coisa chamada sociedade, existe sim o homem e a mulher e as famílias...
Fotografia: Enéas Bispo de Oliveira