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segunda-feira, junho 24, 2024

A Injustiça Eterna: A Perseguição a Capitu


Por Enéas Bispo 

Em Dom Casmurro, Machado de Assis tece uma narrativa que, a princípio, parece ser uma simples história de amor. No entanto, a dúvida sobre a traição de Capitu se torna o cerne da trama, alimentando debates acalorados até os dias de hoje.

Mas por que essa obsessão em desvendar a verdade sobre a suposta traição? Será que a fascinação reside na busca por um veredicto definitivo, na necessidade de condenar ou absolver Capitu? Ou será que essa busca esconde algo mais profundo, um desejo de controlar a narrativa, de impor uma verdade única sobre a vida de uma personagem fictícia?

Ao expor Capitu à desconfiança e ao julgamento, Machado, mesmo que sem intenção, contribui para a perpetuação de uma cultura de linchamento moral. A personagem se torna alvo de fofocas e especulações, como se sua vida privada fosse um espetáculo a ser dissecado pelo público.

É importante lembrar que Capitu é uma personagem literária, uma criação da mente de Machado de Assis. Ela não é uma pessoa real, com seus próprios pensamentos e sentimentos. Reduzir sua complexa existência à mera questão da traição é um desserviço à obra e à própria personagem.

Ao invés de nos concentrarmos em julgar Capitu, deveríamos nos debruçar sobre a riqueza da obra de Machado. Devemos explorar os temas que ele aborda, as nuances dos personagens e a genialidade de sua escrita.

Afinal, a verdadeira traição reside naqueles que se recusam a ver a humanidade por trás da ficção, que insistem em reduzir personagens complexas a meras caricaturas.

Em vez de perseguir Capitu com julgamentos infundados, que tal celebrarmos a genialidade de Machado de Assis e a riqueza de sua obra?