Por Enéas Bispo
Tenho morrido muitas vezes. Não a morte que silencia o corpo e apaga a luz dos olhos, mas aquela que estraçalha a alma, que dilacera o espírito e nos joga em abismos de desespero. Tenho morrido em desilusões, em traições, em promessas quebradas e em sonhos que se esvaíram como fumaça ao vento. Cada morte, um golpe, uma ferida aberta que parecia impossível de cicatrizar.
Depois, respiro fundo. É um ato quase mecânico, um reflexo de sobrevivência que a vida, em sua sabedoria cruel, nos ensina. Um sopro que se enche de ar, de esperança, de uma teimosia inabalável. Lavo o rosto, não apenas para afastar o sal das lágrimas, mas para limpar a poeira da derrota, para enxaguar a imagem do que se foi. E sigo em frente. Com os pés pesados, é verdade, mas com a cabeça erguida, mirando um horizonte que, por vezes, parece inexistir.
Não é fácil morrer. A dor é um fardo pesado, a escuridão, um véu que insiste em cobrir tudo. Mas, se morrer é difícil, muito mais árduo é renascer. É preciso uma força que transcende o entendimento, uma coragem que desafia a lógica. Renascer é fingir-se de sol, mesmo quando a alma está em noite profunda, irradiando calor e luz para si mesmo e para o mundo. É cegar a lua, ignorar as sombras que a melancolia projeta, recusar-se a viver sob o pálido brilho da tristeza. É beber o mar, sorver a imensidão dos desafios, transformar a vastidão dos problemas em fonte de nutrição para a própria alma.
Detestável seria ter a covardia dos que me mataram. Aqueles que, por egoísmo, inveja ou pura maldade, tentaram ceifar minha essência. Eles se escondem na sombra de suas próprias fraquezas, na pequenez de seus atos. A covardia é um veneno lento que consome por dentro, enquanto a resiliência é um elixir que fortalece a cada gole amargo.
Eu sigo renascendo. Em cada cicatriz, uma nova história. Em cada queda, um novo impulso. Em cada fim, um novo começo. Eles seguem covardes, presos em suas próprias prisões de medo e rancor. E enquanto eles definham na escuridão que criaram, eu me ergo, mais forte, mais luminoso, um sol que insiste em brilhar, uma lua que se recusa a ser cega, um mar que se deixa beber e me transforma. A vida, afinal, é um ciclo eterno de mortes e renascimentos, e eu escolho, a cada novo amanhecer, ser o protagonista da minha própria ressurreição.
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