quinta-feira, outubro 02, 2025

Metanol nos Bares de São Paulo: Uma Crise de Saúde Pública e Segurança Alimentar


Por Enéas Bispo 

Uma onda de intoxicações por metanol tem alarmado as autoridades de saúde e segurança pública em São Paulo, expondo uma grave crise de adulteração de bebidas alcoólicas. Com casos confirmados e óbitos em investigação, a presença dessa substância altamente tóxica em bares e distribuidoras levanta questões urgentes sobre a fiscalização, a origem da contaminação e os riscos para a população. Esta matéria explora o que é o metanol, como ele chegou às bebidas consumidas em estabelecimentos paulistanos, seus devastadores impactos na saúde e as medidas que estão sendo tomadas para combater essa ameaça.

O Que é Metanol e Por Que Ele é Tão Perigoso?
O metanol, também conhecido como álcool metílico, é um composto químico com a fórmula CH3OH. Embora seja um tipo de álcool, semelhante ao etanol (álcool etílico) presente nas bebidas alcoólicas, suas propriedades e efeitos no corpo humano são drasticamente diferentes. É um líquido incolor, inflamável e com um odor que pode ser confundido com o do etanol, o que o torna particularmente perigoso em contextos de adulteração.

Historicamente, o metanol era obtido pela destilação seca de madeiras, ganhando o apelido de"álcool da madeira". Atualmente, sua produção é majoritariamente industrial, a partir do gás de síntese, sendo amplamente utilizado como solvente, na fabricação de plásticos, tintas, medicamentos e até como combustível em algumas categorias de veículos de corrida.

As investigações têm revelado que a adulteração ocorre em diferentes níveis da cadeia de suprimentos. Há relatos de estabelecimentos que adquiriram bebidas de vendedores de rua ou diretamente de fábricas clandestinas, onde a produção não segue qualquer controle de qualidade ou segurança. Uma operação recente da Polícia Civil e da Vigilância Sanitária de São Paulo resultou na interdição de distribuidoras e bares, além da apreensão de milhares de garrafas de bebidas suspeitas, A presença de metanol em bebidas alcoólicas nos bares de São Paulo é resultado, principalmente, de adulteração intencional e falsificação. Criminosos adicionam metanol a bebidas como gin, uísque e vodca para aumentar o volume ou simular produtos mais caros, impulsionados pela diferença de custo entre o metanol (mais barato) e o etanol.

Embora menos comum nos casos atuais, o metanol também pode aparecer em bebidas artesanais devido a falhas no processo de destilação, onde a separação inadequada do metanol do etanol pode resultar em concentrações perigosas

Impactos na Saúde e o Desafio do Diagnóstico

Os sintomas da intoxicação por metanol podem demorar de 12 a 24 horas para se manifestar, o que dificulta o diagnóstico precoce. Inicialmente, podem ser confundidos com os de uma embriaguez comum, incluindo dor de cabeça, náuseas, vômitos e dor abdominal. No entanto, a progressão leva a sintomas mais graves como confusão mental, visão turva repentina ou cegueira permanente.

O tratamento é urgente e complexo, envolvendo medidas de suporte, correção da acidose metabólica com bicarbonato, suplementação de ácido fólico e o uso de antídotos. O etanol venoso é um dos antídotos, pois compete com o metanol pela enzima que o metaboliza, impedindo a formação do ácido fórmico. Outro antídoto eficaz é o fomepizol, embora não registrado no Brasil. Em casos graves, a hemodiálise pode ser necessária para remover o metanol e seus metabólitos do organismo.

Medidas de Prevenção e Alerta às Autoridades

Diante da gravidade da situação, o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Brasil, em conjunto com as autoridades estaduais, implementaram um plano de ação para combater a adulteração de bebidas. Este plano inclui o monitoramento dos casos, intensificação da fiscalização e a abertura de inquéritos para desmantelar as redes de falsificação.

O MJSP emitiu recomendações urgentes para consumidores e estabelecimentos: desconfiar de preços muito baixos, verificar a integridade de lacres e rótulos, e adquirir bebidas apenas de fornecedores confiáveis e legalizados. Para os estabelecimentos, a orientação é clara: comprar de distribuidores reconhecidos, verificar a procedência dos produtos e descartar embalagens vazias de forma segura para evitar sua reutilização por falsificadores.

Consumidores que suspeitarem de adulteração ou apresentarem sintomas após o consumo de bebidas alcoólicas devem procurar atendimento médico imediatamente e denunciar às autoridades competentes, como o Disque Denúncia 181 ou a Vigilância Sanitária local.

A crise do metanol em São Paulo é um lembrete sombrio dos perigos da falsificação de produtos e da importância da vigilância contínua por parte das autoridades, do setor e da própria população para garantir a segurança e a saúde pública.

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