Por Ricardo Saló*
Outro que se diria vir fora de época, quando - pela total ausência de stresse - é agora o "seu" tempo. Convirá saber que o nom de plume se inspira em Rumer Godden, escritora inglesa e autora de "Black Narcissus", que os "magos" Powell & Pressburger haviam de converter numa das peças mais eróticas da história do cinema (ainda para mais, protagonizada por freiras). E que Sarah Joyce nasceu em Islamabad: não muito longe, portanto, da grande encruzilhada de civilizações, culturas, religiões, etc., do planeta. Nada disso está presente na sua obra. Mas será vital referi-lo, já que esta expressão reflete o outro encontro (interior) que o título celebra. E nada tem de exagero asseverar que a música - clássica, simplicíssima e isenta de segredos - reúne as quatro estações do ano no espaço da canção. De "Am I Forgiven?" (ond vagueia entre Sandie Shaw, Everything But The Girl e Swing Out Sister) à leitura de "Alfie" (onde "arruma" a versão clássica de Cilla Black), via "Aretha" (momento confessional de uma rapariga que - manhã cedo - vai a caminho da escola com a criadora do pós-feminismo de "Natural Woman" nos auscultadores), não há uma só canção desta tranquila obra de arte que não saiba cruzar os aromas inebriantes da primavera, as cores desmaiadas e apaziguadoras do crepúsculo de um dia de verão, a brisa suave daquele outono sereno que já se perde na memória e o derradeiro aconchego face aos rigores do inverno com desarmante generosidade de quem canta "I never thought I would see the sun again". Está lá tudo para pleno desfrute de quantos se disponham a usar os sentidos em vez da lupa. Porque concluir que este é o fruto de uma "encruzilhada íntima" nascida da memória de Carpenters, Carole King e Burt Bacharach apenas será um problema para quem quiser que o seja.
*Atual/Expresso
www.expresso.pt
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