Vinho, Saudade e Liberdade

Por Mia Khalifa

Os meus amigos imaginaram que eu estava louca por pedir uma garrafa de vinho de 3000 dólares quando eu mal bebo, mas isto é mais do que um vinho para mim. Este é um pedaço da história de tempos mais felizes no Líbano. Antes da guerra civil, antes da explosão de Beirute, antes da destruição econômica, antes dos ataques aéreos, antes da mágoa e da emigração em massa, antes das tensões geopolíticas e socioeconômica, antes das despedidas e "por favor, envie orações e doações", antes mesmo de muitos de nós nascerem para saber como um Líbano gosta isso e como. Foi lindo saborear o vinho branco envelhecido que está escurecido e azedado um pouco tal como o país onde as uvas cresceram. Mas o sabor depois foi o que me chocou... manteiga e mel. Suave como o calor do uísque, com notas de doçura duradouras. Tal como o país de onde vem. No fundo, no fundo, os libaneses só querem amar, comer, dançar e morrer pacificamente na nossa bela terra e serem enterrados no solo que cultiva estas uvas mágicas. 

Melissa - A Dama do Salto 15!

Quando ela passava no seu salto 15, vestindo vermelho, de óculos escuros, lábios pintados de cor chocante e cabelos dourados, provocava...

Provocava emoções, taquicardia, suspiros, sonhos.

Nos sofisticados encantos, nos decotes generosos e no balanço do andar...

Provocava,

Provocava,

Provocava desejos.

Quando ela passava nos seu salto 15, mini-saia de couro e top jeans, cabelos loiros ao vento e um sempre sorriso indisfarçável nos lábios; ela provocava...

Insônia, vertigem, calor.

Todos queriam o seu carinho, todos queriam a sua atenção, todos queriam o beijo da Dama do Salto 15! Todos queriam seus íntimos suspiros, um olhar, um oi.

Mas a Dama do Salto 15 não era de ninguém, não era propriedade de nenhum, não tinha parentesco, ela era por si mesma. A rua ficava silenciosa quando ela passava no seu jeans azul e blusa transparente, os carros paravam, o semáforo fechava, os pedestres se curvavam em reverencias quando a Dama do Salto 15 passava.

Quem é que não desejava ser a água do seu banho? Seus travesseiros? Seu sono e seus sonhos? Ser o seu despertar preguiçoso em lençóis de seda numa manhã chuvosa?

Mas como fada Mel Melissa ficou pouco tempo entre nós, partiu, para o além, não morreu pois mulheres como ela não morrem deixam um rastro de perfume e partem como um cometa para o paraíso, onde certamente continuam a provocar.

P.S_Entre lágrimas de saudades essa é a minha pequena homenagem, querida Melissa!

Texto: Enéas Bispo de Oliveira