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terça-feira, novembro 15, 2011

As Castas de Portugal

Quem se interessa pela história do vinho sabe que todos os livros e cursos apontam o extremo oriental da Europa mediterrânea como o berço da vinha. Os fatos são ilustrados por hieróglifos do antigo Egito e por ânforas de gregos e fenícios.
E se o outro extremo do mediterrâneo - Portugal - tiver sido o verdadeiro berço do vinho?
Esta tese tem sido levantada com o suporte científico de equipes universitárias que descobriram 20 povoamentos de videiras silvestres, sobretudo nas bacias do Guadiana, Almansôr, Pônsul e Sado, com mais de 10.000 anos de datação. O mais extraordinário desta descoberta é que os estudos moleculares efetuados comprovam uma maior proximidade genética entre as castas (ou variedades) de uva atuais e essas videiras silvestres agora descobertas, relativamente às videiras do mediterrâneo oriental que pensávamos originais, o que é considerado um bom indicador contra a corrente atual de importação para a Ibéria de videiras do Oriente, pelos mercadores fenícios.
Num esforço conjunto das universidades e empresas, e com o apoio de instituições públicas, foi constituída a Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira que está a implantar pólos de conservação das várias castas e a estudar a respectiva variabilidade genética com resultados muito interessantes, como a confirmação da origem geográfica das castas nacionais e a promissora capacidade de obtermos, no seio da mesma variedade, uma produção de uvas que varia de uma a cinco vezes, ou a produção de compostos da cor, do simples para o dobro. Entre muitas curiosidades agora reveladas, sabia que a casta Baga, tão dominantes nos vinhos da Bairrada, afinal é originária do Dão?

Alvarinho - Aparentada com a casta branca Riesling, pode ter sido introduzida na Galiza pelos monges de Cluny. É uma das variedades menos produtivas do mundo. É uma casta de ciclo curto, amadurecendo precocemente. Possui maior intensidade e qualidade da cor, aroma intenso a fruto cítrico, como toranja, e caráter gustativo com maior doçura, calor, estrutura, equilíbrio e persistência. Atribuem-se notações de frutos de árvore, sobretudo maçãs e pêra.
Arinto - Casta branca disseminada por todo o país, conhecida na região dos Vinhos Verdes por Podernã. De abrolhamento e maturaçãoa meio da época, tem uma acidez natural elevada. Muito afamada em Bucelas, de onde será originária, esta casta é descrita aromaticamente por riqueza cítrica, ligeiro floral e frutos tropicais intensos, sobretudo ananás.
Alfrocheiro - Os estudos genéticos apontam para o Dão como a origem inicial desta casta tinta, com média disseminação em Portugal. No entanto, o nome de Tinta Francesa, como era designada na região de Viseu, parece localizar-lhe o berço fora do nosso país (Portugal). Muito floral, com morangos e muitos bagos vermelhos. Tem elevada capacidade corante e é valorizado o bom equilíbrio entre os seus ácidos e o açúcar que dará o álcool.
Aragonez - No Norte e Centro de Portugal designa-se por Tinta Roriz. Em Espanha chama-se Tempranillo e criou as primeiras raízes mundiais a sul da Rioja, numa Denominação de Origem chamada Valdepeñas, na província de Aragón (Aragão). Talvez essa seja a explicação para esta casta se designar, no Sul de Portugal, por Aragonez. Os aromas mais referidos são a ameixa, a passa de ameixa, os frutos vermelhos, compotas e cânfora. Em Espanha refere-se a alcaçuz, a banana e a rosa.
Alicante Bouschet – Casta tintureira (com matéria corante na polpa), derivou de um cruzamento francês da desaparecida Petit Bouschet com Grenache. Muito produtiva e considerada casta de lote para dar cor e taninos no Sul de França, conhece um enquadramento qualitativo ímpar no Alentejo. Pouco estudada,os descritores aromáticos mais frequentes são os frutos silvestres, azeitona, vegetais, mentol, eucalipto e cacau.
Antão Vaz - No final do século XIX, a localização  desta casta branca estava limitada aos concelhos de Cuba, Évora, Portel e Vidigueira, de onde será originária. Tem similitude genética com a casta Cayetana da Extremadura espanhola.Segundo o enólogo Paulo Laureano, os vinhos produzidos com a casta Antão Vaz têm cor citrina  e um aroma de intensidade média, mas com finesse e complexidade. Destacam-se as cascas cítricas e a fruta tropical madura. Na  boca, nota-se  a elevada estrutura da casta medianamente ácida.
Baga - Casta tinta muito importante nas Beiras, sobretudo para a Denominação de Origem Bairrada, tem um ciclo de maturação tardio, o que a penaliza quando é colhida antes do ponto óptimo devido às frequentes chuvas de Setembro. Aromaticamente nota-se um fumado varietal, por vezes reconhecido como notas de madeira,café torrado, doçura de frutos vermelhos  e cereja, ligeiro mel e floral. Estudos recentes confirmam que, apesar de ser dominante na Beira Litoral, a Baga é originária da região do Dão.
Cabernet Sauvignon - Casta tinta de reconhecimento mundial e grande responsável pelo gosto do consumidor internacional. Apresenta intensas notas de groselha negra e pimentos verdes. Também se referem    cedro, violeta, couro e caixa de charutos. Na boca é notada a sua boa estrutura de taninos. É a mais importante casta do Médoc bordalês. Um estudo genético recente aponta  como origem o cruzamento  entre o Sauvignon Blanc e Cabernet Franc, esta última muito mais apimentada. Resistente a pragas e doenças, tem uma maturação tardia. Aclimatada ao sul de Portugal.
Castelão - A casta tinta dominante a Sul do Tejo e na região de Lisboa, onde é conhecida por João de Santarém, ocupa mais de metade do encepamento  da Península de Setúbal, seu presumível local de origem. Muito produtiva e com acidez mais elevada do que outras variedades como Aragonez e Trincadeira, é caracterizada por descritores aromáticos como cereja, bolota, pinhão, groselha, framboesa.
Chardonnay - Base branca  da reputação  de Champanhe e da Borgonha, em especial  na afamada região de Chablis. Muito manuseável na adega, tem uma delicadeza de aromas que dificulta o loteamento sem se despersonalizar. A notação mais recorrente é de noz e avelã. Também se refere maçã, pêra, pêssego e frutos tropicais. Assume notações amanteigadas, tem equilíbrio e untuosidade naturais e intensa mineralidade.
Fernão Pires - Uma das castas brancas mais disseminadas por todo o país. Oriunda da Beira Litoral, onde é conhecida por Maria Gomes. Tem um nível perceptível de compostos aromáticos varietais (terpenos) apenas ultrapassado pela inimitável Moscatel. Parca de acidez, é descrita  sensorialmente com notas de rosa, tília, líchias, manjerico e outras ervas limonadas.
Loureiro - É a casta mais aromática da região dos Vinhos Verdes, devido ao seu carácter terpénico, de flores e frutos tropicais. Enraizada há muitos séculos na região e embaixadora da sub-região do Lima, produz vinhos de  grande versatilidade, desde os mais leves e irreverentes até aos gastronómicos de maior concentração e estrutura.
Moscatel Galego - Há várias variedades de Moscatel no mundo, todas elas com a mais importante concentração de compostos (terpénicos) aromáticos varietais. Esta variedade branca, que em França se apelida Muscat à Petits Grains, domina no Douro, enquanto no Sul se implanta a Moscatel de Setúbal. Os aromas típicos são bem conhecidos: casca e flor de citrinos, mel,tília, rosa, líchias, feno e passa de uva.
Moscatel Graúdo - Há várias variedades de Moscatel no mundo, todas elas com a mais importante concentração de compostos (terpénicos) aromáticos varietais. Esta variedade branca, que em França se apelida Muscat d'Alexandrie, domina a Sul, enquanto no Norte se implanta a Moscatel Galego. Os aromas típicos são bem conhecidos: casca e flor de citrinos, mel,tília, rosa, líchias, feno e passa de uva.
Moscato - Há várias variedades de Moscatel no mundo, todas elas com a mais importante concentração de compostos (terpénicos) aromáticos florais. Esta variedade branca, que na região italiana de Asti se apelida de   Moscato d'Alessandria, é similar à nossa uva de Moscatel Graúdo, que domina na Península de Setúbal. Os aromas típicos são bem conhecidos: casca e flor de citrinos, mel, tília, rosa, líchias, feno e passa de uva.
Malvasia Fina - O grupo das Malvasias tem referências seculares, pensando-se que a casta é, provavelmente, originária da Grécia, tendo daí navegado até à ilha da Madeira, onde é conhecida por Boal. No continente, uma das Malvasias - a Malvasia Fina - encontra raízes mais profundas no Douro. Na Madeira, revela intensidade floral e notas de limão fresco. Também se referem ceras, damasco e fruto tropical.
Negra Mole - Uma das castas tintas exclusivas do Sul de Portugal, mais propriamente do Algarve, é a Negra Mole. O estudo desta casta revelou-se muito interessante pois confirmou que se trata de uma das mais ancestrais variedades locais de vinha, com uma variabilidade genética que é três vezes superior a castas como a Touriga Franca no Douro ou a Aragonez no Alentejo.
Síria (ou Roupeiro) - É a casta branca que domina em Portugal. Originária da Beira Interior, é conhecida como Roupeiro no Sul de Portugal. Sensível à oxidação. Infelizmente muito pouco estudada do ponto de vista sensorial, os descritores aromáticos mais encontrados referem frutos maduros como a ameixa branca, melão, fruto tropical, erva cortada.
Syrah - Casta tinta característica das encostas do Ródano (Côtes du Rhône), França, onde produz os afamados vinhos de Côte Rôtie e de Hermitage, nome pelo qual também é localmente conhecida. No Novo Mundo é apelidada de Shiraz. Textos referem que é uma das mais antigas castas do mundo, com origens na antiga Pérsia. Apesar de uma floração tardia, tem um amadurecimento óptimo e meio da época. Muito corada. Aromaticamente descrita com frutos negros, fumo, musgo, terra e trufas, pimentas, tomilho, sândalo e couro.
Touriga Nacional - A casta tinta portuguesa com mais procura internacional. A característica mais assinalável é a quantidade de compostos aromáticos varietais, superior à maioria das castas brancas. Por isso reveste-se de um reconhecido carácter floral. Os descritores mais característicos são violeta, bergamota, licor de ameixa, uva-passa, frutos silvestres e esteva.
Touriga Franca - No Douro é uma das castas tintas mais plantadas, servindo de base ao vinho do Porto. Dá origem a vinhos com intensidade corante e bons taninos. São referidos no aroma os descritores florais (rosas), frutos silvestres e amora, cereja preta, especiarias, esteva, notas herbáceas e lenhosas. A sua pequena variabilidade genética indica que se trata de uma casta introduzida, provavelmente no arranque do séc.XX, tendo resultado de um cruzamento de Touriga Nacional com outra variedade regional.
Tinta Roriz (ou Aragonez) - Uma das castas tintas de maior implantação nacional apelida-se Tinta Roriz e a sua antiguidade em Portugal é maior no Norte do que no Sul. Em Espanha chama-se Tempranillo e criou as primeiras raízes mundiais ao sul da Rioja, numa Denominação de Origem chamada Valdepeñas, na província de Aragón (Aragão). Talvez essa seja a explicação para esta casta se designar, no Sul de Portugal, por Aragonez. Os aromas mais referidos são a ameixa, a passa de ameixa, os frutos vermelhos, compotas e cânfora.
Tinta Barroca - Muito implantada no vale do Douro, tem um aroma floral que faz lembrar a Touriga Nacional, ou não tivesse sido resultado de um cruzamento natural da Touriga com Marufo, outra casta regional. Não se sabe quando chegou à África do Sul, onde é muito usada para elaborar vinhos doces ao estilo do vinho do Porto, sendo lá conhecida como Tinta Barocca.
Tinta Cão - Em 1875, escreveu o Visconde de Vila Maior que  "a Tinta Cão é casta muito antiga no Douro, e merece um dos primeiros lugares entre as que se cultivam em Portugal; amadurece bem, não seca, nem apodrece, e, ainda que não seja de muita produção, dá um vinho muito coberto, forte e generoso." Uma das cinco castas nobres para o Douro, revela aromas frescos e mentolados, bagos negros e resinas.
Trincadeira - Casta tinta amplamente disseminada no país, designada por Tinta Amarela no Douro e ainda por confirmar a similitude genética com a minhota Espadeiro. Parece que será originária da região de Lisboa mas é no Alentejo que encontra a sua maior expressão. Não é particularmente rica em matéria corante e atribuem-lhe aromas de gerânio, floral, pimento, vegetal, herbáceo, resina, especiaria, amora e frutos vermelhos.

Foto: Enéas Bispo de Oliveira
Fonte.: Catálogo de Vinhos do Continente
Saiba mais em: www.continente.pt