"O fado exprime toda a gama de sentimentos humanos."
Fez estudos clássicos de Violino na Academia de Poznam, a cidade polaca onde se realiza um dos mais importantes Concursos Internacionais do Wieniawski. Em Portugal desde 2000, tem tocado com a maior parte das orquestras portuguesas e conhece o país de lés a lés. O fascínio pelo fado empurrou-a para o desejo de interpretar com o instrumento que conhece desde criança os clássicos maiores do fado. "Canta" o fado como o violino. E teima que o fado não é só tristeza e não pertence só à alma portuguesa.
"Conheci Portugal em 1999, passei aqui uma semana de férias. Estive então pela primeira vez em casas de fado em Lisboa. Já tinha ouvido fado, mas nunca ao vivo. Fiquei impressionada com a força das emoções que o fado consegue exprimir", declarou Natalia ao Jornal I/Lisboa.
No início de 2000, veio a convite da Orquestra do Norte. Trabalhou com a Orquestra do Norte durante cerca de oito meses, mas desejou sempre viver perto de Lisboa. Trabalhou depois com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, assim como com a Orquestra Metropolitana, uma colaboração de quase um ano. Entretanto, com músicos que conhecia, formaram um grupo de música de câmara, tocou em trios e quartetos. Tocou igualmente como solista, também com a Orquestra do Norte. Em Portugal colaborou com praticamente todas as orquestras do país. Há dois anos está concentrada no projeto do fado. Continua interessada em tocar em orquestras de câmara, mas é o fado que a entusiasma mais. Teve oportunidade de tocar nos lugares de maior prestígio em Portugal e viajar pelo país inteiro.
"A música não vive sem um público, isto aplica-se particularmente ao fado que mexe com a alma."
O contato próximo com as casas de fado lhe despertou uma grande paixão pelo fado. Mesmo sem conhecer a língua, sentia o fado lhe tocar os sentimentos. Foi daí que nasceu a ideia de tentar exprimir com o seu instrumento as mesmas emoções. E este fascínio pelo fado foi-se aprofundando com o tempo. Começou a desejar exprimir as vozes dos fadistas, aquela língua que lhe era tão desconhecida, com o instrumento que conhecia desde criança, que fazia parte de si, como se fosse a própria voz, o violino. Mas não aconteceu logo. Teve que amadurecer para isto.
Este desejo foi amadurecendo e só veio a ganhar asas quando já vivia em Portugal. Para isso teve que primeiro desenvolver uma maior empatia com o fado. Mas principalmente teve de passar por experiências na sua vida sem quais não saberia entender e exprimir o fado...
"Não é possível interpretar o fado se desconhecemos as emoções que o fado exprime, tem de vir do fundo da alma. Até porque a recepção por parte dos ouvintes não seria a mesma. Quem não sofreu não saberá nunca exprimir o sofrimento. Seria um fingimento. No fado encontro o reflexo das experiências que vivi, o percurso da minha vida," diz.
"Quem não sofreu não saberá nunca exprimir o sofrimento no fado. Seria um fingimento."
Natalia se diz convencida de que o fado é universal, e exprime todos os sentimentos que são comuns à experiência, não só do povo português, mas de todos os homens. Ela diz também que o fado não é só lamento e tristeza. "As interpretações que tenho conhecido nas casas de fado exprimem muitas outras emoções. Sinto sempre uma grande comoção, encontro no fado toda a gama de sentimentos, a expressão incomparável da beleza de todos os sentimentos humanos. Não há no fado apenas lamentos, tristeza, sofrimento. O fado é também expressão de alegria, felicidade, paixão, amizade. É a expressão perfeita dos sentimentos humanos."
"Pode parecer imodéstia, mas julgo que o violino é o instrumento que melhor substitui a voz humana, capaz de exprimir um variado leque de emoções. O violino é tocado encostado ao coração, numa intimidade muito grande com o corpo. Até porque o violino permite controlar o som, temos influência sobre a forma como dada nota vai soar, controlamos a vibração, a modulação do som. Se tocamos piano, podemos modelar o som pelo toque da tecla, mas não tanto quanto o violino permite. Canto o fado com as cordas do meu violino. No essencial, trata-se de substituir a voz do fadista pela do violino."
Este videoclip mereceu o prémio de melhor projeto na área do fado em 2010
O acolhimento público - "Para mim, tocar violino no fado, os meus concertos de fado, não são apenas exprimir emoções, são um momento de comunhão entre mim, os meus músicos e o público. A música não vive sem um público, mas isto aplica-se particularmente ao fado, que mexe com as emoções fundas na alma humana. E tenho tido a experiência de uma grande proximidade com o público, o que tem me encorajado muito. Depois dos concertos as pessoas vêm falar-me comovidas, vêm confirmar as emoções que eu sinto também quando toco. É isto que dá sentido ao que faço. E fiquei muito tocada pelo acolhimento que me foi manifestado por fadistas da geração mais velha, o que me encorajou muito a continuar."
"Koszalin (Polónia) é uma cidade muito diferente. É mais modesta, cheia de verde, situada junto à costa. Foi ali que se construiu a minha personalidade, à beira do mar Báltico. Para mim, essa proximidade do mar permanecerá sempre o elo de ligação entr a "minha" Polónia e o "meu" Portugal. Nos dois lugares pulsa a saudade, a nostalgia e o mistério que fazem o fado."
Fonte: Reportagem(Nelson Pereira) Jornal I/Lisboa
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