
Amo os livros! E amo os livros não só pelas histórias que contam ou os ensinamentos que passam, mas também gosto do objeto livro, o cheiro, as cores, os formatos e seus sabores. E me perdoe se acha estranho eu falar do sabor de um livro, mas é verdade, livro tem sabor. Se você gosta dos livros vai entender o que digo, se gosta apenas parcialmente ou aproxima deles apenas por necessidade então nunca saberá, vá se preocupar com outra coisa, com outro assunto pois nunca irá encontrar o sabor que eu falo. Gostar de livro é uma questão de pele, da sua e dos seus livros; livros têm pele, tem voz, tem cheiro, tem sabor e sentimentos.
Existe um movimento que visa proporcionar a partilha da leitura, que consiste em você deixar o livro em um lugar onde alguém possa achá-lo. Pode deixá-lo no ônibus, no metro, táxi ou banco de jardim público. Essa talvez seja uma ideia carregada de boas intenções e até romântica se você acreditar que quem o encontrar irá continuar a leitura; mas eu sempre penso o pior, que quem o encontrar irá depositá-lo na lixeira mais próxima ou na melhor das hipóteses levá-lo ao departamento de perdidos e achados onde ficará para todo o sempre, amém. Não, eu não embarco nessa, amo demais os livros que convivem comigo para deixá-lo abandonado numa cena qualquer esperando que alguém o adote como se faz com uma criança no orfanato. Que horror!
Depois que pego um livro e leio-o, eu e ele criamos uma relação de amizade e amor, e, quero que ele (o livro) ocupe o melhor espaço da minha casa ou então, vai ficar num espaço próprio a ele: uma estante, uma gaveta, uma caixa debaixo da cama. Mas ele estará ali, sempre bonitinho, quietinho, bem abrigado e disponível para me transmitir o seu melhor, seus ensinamentos, me transportando para um mundo diferente do meu. Meus livros são meus! Por isto não os dou, não os empresto e nem deixo-os em mãos que não os respeite.
Adoro perder horas em livrarias, e aqui em Portugal todas as livrarias são maravilhosas: Fnac, Bertrand ou outras mais intimistas. Detesto aquelas com iluminação excessiva, livraria não deve ter iluminação muito forte. Tem que ter a iluminação dos restaurantes românticos, uma luz amena, com música instrumental de fundo e bem baixinha e sem funcionários perguntanto:
-Precisa de ajuda?
Desde quando preciso de ajuda para escolher os meus futuros amigos e companheiros de aventura e ensinamentos?
-Não, não preciso de ajuda!
Sempre respondo assim. A escolha precisa ser silenciosa.
Uma coisa maravilhosa, os supermercados (agora) também vendem livros, entre corredores de sabão em pó, margarina e toda a ordem de produtos. Lá estão os livros, a maioria das pessoas passam por eles indiferentes, muitas pessoas não percebem a diferença entre um amaciante de roupas e um livro. Aliás, percebem sim, para eles um livro tem menos importância do que o amaciante, por isso enchem os carrinhos de coisas, mas não botam na lista um livro. Por isso alimentam seus corpos e lavam e amaciam suas roupas, mas suas almas continuam raquíticas e ásperas.
Dia desses li um comentário de um idiota que idagava, o para quê as florestas se transformarem em livros. Querem que as árvores se transformem no que? Em cadeiras, mesas, postes? Também precisamos de móveis de madeira, também precisamos que as árvores estejam de pé, mas também acredito que não existe destino mais nobre para uma árvore do que aquele de se transformarem em livros. O que querem? Que as arvores cresçam e apodreçam? Acredito que não é bem por aí. Além do mais não conheço nenhum registro que diga que destruíram uma floresta para transformarem em livros. A construção de um livro não é feita apartir da destruição de uma floresta. Então se amas os livros, leia-os sem culpa.
Texto e Foto: Enéas Bispo de Oliveira
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