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sexta-feira, março 14, 2025

O Abismo do Paraíso


Por Enéas Bispo
Hoje é comemorado o Dia Nacional da poesia.

Você me olhava, olhos feitos de abismos,  Uma pergunta silenciosa queimava no ar:  É amor o que sangra em nós,  Ou será a dor que nos costura à beira do precipício?

Não há resposta que não fira,  Não há verso que não rasgue o peito.  Somos feitos de incêndios silenciosos,  De um fogo que tanto aquece quanto consome.

Amamos como quem pisa em cacos,  Cada passo ressoa um lamento cortante.  A dor é irmã gêmea do êxtase,  E juntos, dançamos na corda tênue da perdição.

Talvez sejam os dois, amor e dor,  Misturados como veneno e cura,  Nos levando pela mão a um destino cego,  Um salto sem redes para o abismo do paraíso.

Caminhamos sem olhar para trás,  Como loucos que amam seus próprios cárceres.  Você me olhava e eu sabia—  Não fugiremos, nem queremos.

Esse amor é nossa ruína,  Mas também o céu pintado por nossas mãos.  Se há um fundo no abismo,  Que seja feito de estrelas,  E que ao cair, toquemos o impossível.

E assim seguimos, entre beijos que cortam  E abraços que selam feridas invisíveis.  Rumo ao desconhecido, de olhos fechados,  Para cair ou voar.  Pouco importa—  O paraíso sempre começa na queda.

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