Por Enéas Bispo
Laura me perguntava cheia de risos, há algo mais fascinante do que ser pessoa na multidão? Ela adorava se misturar aos desconhecidos, observar as expressões, os gestos, as roupas, as histórias que cada um carregava. Ela dizia que se sentia livre, que podia ser quem quisesse, que ninguém a julgaria ou cobraria nada dela. Ela gostava de inventar nomes e vidas para as pessoas que cruzavam o seu caminho, de imaginar o que elas pensavam, sentiam, sonhavam.
Eu, por outro lado, tinha medo da multidão. Me sentia sufocado, ansioso, inseguro. Não gostava de me expor, de me sentir observado, de me comparar com os outros. Preferia ficar em casa, lendo um livro, ouvindo uma música, conversando com os amigos mais próximos. Eu dizia que a multidão era uma ilusão, que nela não havia verdadeira conexão, que era melhor buscar a qualidade do que a quantidade.
Laura e eu éramos opostos, mas nos amávamos. Ela me tirava da minha zona de conforto, me levava para passear, me mostrava o lado bom da vida. Eu a acalmava, a abraçava, a ouvia com atenção. Ela me ensinou a ver beleza na diversidade, a apreciar as pequenas surpresas, a rir de mim mesmo. Eu a ensinei a valorizar a intimidade, a cultivar a confiança, a se expressar com sinceridade.
Um dia, Laura me convidou para ir ao carnaval. Ela estava animada, queria se divertir, dançar, pular, beijar. Eu estava receoso, queria evitar, fugir, me esconder. Mas eu aceitei, por amor a ela, por vontade de experimentar, por curiosidade de saber como era. Ela me levou pela mão, me guiou pela multidão, me apresentou aos seus amigos, me deu um beijo. Eu me deixei levar, me soltei na multidão, me enturmei com os desconhecidos, me diverti.
Foi então que eu entendi o que Laura me perguntava. Há algo mais fascinante do que ser pessoa na multidão? Sim, há. É ser pessoa na multidão com ela.
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