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©Enéas Bispo de Oliveira |
É engraçada a maneira como as coisas acontecem na nossa vida, quando vamos a algum lugar não podemos sequer imaginar o que ou quem vamos encontrar... podem ser pessoas que nunca mais veremos, mas pode também, no meio de tanta gente "insignificante", surgir alguém tão único e tão especial que fica mesmo difícil transcrever para um simples papel.
As amizades são curiosas. Quando fazemos um amigo não temos consciência de como aquilo pode mudar a nossa vida. Com a amizade nós somos convidados a participar do mundo do outro, e então passamos a conviver com pessoas e ambientes que, se calhar, nunca teríamos contato.
Muitas vezes, estamos acomodados a uma situação, e dessa forma não nos permitimos almejar algo maior e melhor. Pode ser em razão das pressões sociais: "tá-se na Europa, tem um bom emprego, está a tirar um curso de mestrado/doutorado, está curtindo a vida, viajando...o que mais quer da vida?"; pode ser por questões morais, intelectuais e até mesmo, psicológicas: "estudo, trabalho, saio, bebo, me divirto, tenho amigos, vou a discos, viajo, o que mais posso querer? "
E então, cada convite pode ser decisivo na nossa história. Cada vez que resolvemos sair de casa, ainda que de última hora, cada sítio que frequentamos (esporadicamente ou não)... tudo pode ser determinante no nosso destino. Quem nunca foi a um lugar meio que por impulso e depois pensou "se eu não tivesse aceitado esse convite, ou se eu não tivesse saído hoje de casa nada disso estaria acontecendo?". Todos os dias das nossas vidas passamos por pessoas que podemos nunca mais ver, ou pessoas que futuramente podem se tornar a pessoa mais importante da nossa vida.
As nossas atitudes também são determinantes na constituição da nossa história. Uma palavra dita (ou não dita) pode mudar o rumo de todo um caminho que estava sendo desenhado. E como esquecer das redes sociais? As redes sociais são mesmo amigas nessas horas (ou cupidos, diria), porque sem elas, o contato com alguém poderia não ser estabelecido. Basta um "like em um post" para que uma amizade comece, e então, sabe-se lá o que pode acontecer a partir de então.
Saber se o gosto musical afina com o de alguém também é essencial. Tanto para relacionamentos amorosos como para amizades. Tudo bem, amigos a gente até aceita alguém que goste de forró quando temos o rock'n roll correndo nas veias, mas gostar de alguém com o gosto musical muito distinto do seu, é muito improvável. E sem falar que é uma boa maneira de introduzir um assunto quando estamos conhecendo alguém novo. E é tão incrível quando estabelecem-se afinidades musicais...
E o que dizer sobre as diferenças culturais? Essas são facas de dois gumes: podem ser motivos de conflito e de nenhuma possibilidade de entrosamento, como pode ser algo instigante interessante e encantador. Um motivo para querer conhecer e desbravar o mundo do outro.
Um exemplo bastante palpável é o fato de que no Brasil as mulheres não são cortejadas como acontece na Europa. Então, uma brasileira quando recebe um convite de um português, por exemplo, pode sentir um certo receio: jantar? Com alguém que você não conhece? Como é isso? Como devo me comportar? O que devo vestir?
Pode parecer meio louco para os portugueses, ou até para os brasileiros, mas as brasileiras sabem muito bem do que eu estou falando.
O homem português se relaciona à moda antiga. Ele te leva para jantar, ao cinema, ao café, a um concerto, a "n" lugares... e age apenas como um amigo. Sendo cavalheiro, buscando-a em casa, pagando a conta, querendo saber mais sobre você, contando mais sobre ele, mas sem estabelecer, imediatamente, um contato físico. Claro que existem exceções, existem os tugas que aprenderam com os brasileiros a como não se deve tratar uma mulher, infelizmente.
Mas o homem português, na sua essência, é romântico, atencioso, carinhoso, cauteloso. Conhece a mulher antes de qualquer coisa e isso é encantador. Falo com propriedade que qualquer mulher que viva isso se encanta e se apaixona. Eu disse mulher, não menina que não tem experiência nenhuma e não sabe valorizar um homem. Não garotinhas imaturas que buscam serem tratadas com indiferença e ficam "implorando" atenção. Mas a mulher, brasileira ou não, bem resolvida emocionalmente, a mulher que já foi vítima dos "cafajestes" da vida e busca alguém que a valorize.
E então, no meio desse "cortejar" que o brasileiro esqueceu no século passado, quando o contato físico finalmente acontece, quando surge o momento do beijo, esse gesto é dotado de muito mais significado e sentimento, e a partir dali, para se apaixonar é mesmo "num pulo". A partir do beijo tudo acontece de forma natural e gradual, e tudo ganha um colorido e um sabor especial.
Dizem que a gente não sabe qual é o momento em que nos apaixonamos por alguém, apenas somos fisgados e depois nos damos conta, sem saber precisar exatamente quando foi. Concordo em partes: acredito que a paixão seja uma reunião de circunstâncias químicas (pele, cheiro, olhar, voz, palavras, sabor...) e psicológicas (carinho, admiração, segurança, conforto, amizade, cumplicidade, afinidade...), e que vão sendo introduzidas e percebidas docemente, sem impacto, e vão nos envolvendo e nos fisgando, até nos percebermos "presos" por ela; mas, de outro lado, acredito que existem situações que podem ser muito intensas e que, por si só, podem acelerar essa trajetória natural das circunstâncias químicas e psicológicas. To parecendo uma "filósofa do amor" falando assim né, mas é exatamente o que eu penso, sobre o fato de se apaixonar. Essas situações externas, na minha opinião, não são situações cotidianas. Acredito que, para serem capazes de acelerar o curso natural das coisas, elas devem ser inéditas. O destinatário tem que ser surpreendido, ser vítima de algo que ele não cogitava que fosse acontecer naquele momento e, então, a paixão acontece. Chegamos no ponto crucial dessa "baboseira". Acho que aqui se explica as serenatas que antigamente os apaixonados faziam para as suas amadas. As donzelas, em cima das sacadas, se viam em situações dotadas dos requisitos necessários para "cair de amores", como dizem os americanos. Sentiam-se surpreendidas, desejadas, invejadas... e eram inebriadas pela coragem, determinação e atitude dos seus pretendentes.
Outro fator importante para o nascimento de uma paixão é a admiração pelo outro. Quando estamos diante de um homem que, por um momento, apresenta sinais de inteligência, segurança e virilidade... UAU... é o momento fatal de ser flechada pelo cupido do amor. Importante frisar que falo nesse texto de paixão. O amor é com o tempo. É convivência, aprendizado,companheirismo. O amor é menos invasivo e ao mesmo tempo mais enraizado. Enquanto a paixão é voraz, avassaladora e picante, o amor é calmo, tranquilo e doce. Mas aí já é outra história...
Texto: Juliana Jacob
Foto: Enéas Bispo de Oliveira
Foto: Enéas Bispo de Oliveira
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