terça-feira, outubro 13, 2009

A LOUCURA DAS TULIPAS!


A tulipomania do século XVII em algumas cidades da Holanda ficou na história econômia como a primeira grande manifestação da "exuberância irracional" dos especuladores. O irônico é que se transacionaram, entre Dezembro de 1636 e Fevereiro de 1637, somas inacreditáveis para a época, em troca de "um direito sobre um bulbo de uma flor num canteiro que nasceria dali a seis meses e que, ainda por cima, era bela porque carregava um vírus, o "mosaico", que diminuía a durabilidade", espanta-se, ainda hoje, o historiador econômico holandês Hendrikus Looijesteijn, atualmente no Instituto Universitário Europeu em Florença.
Algumas classes de bolbos -com nomes pomposos como "almirante", "general", "generalíssimo"- eram transacionados por mais do que o preço de uma mansão luxuosa. Um simples bolbo carregado de "mosaico" podia ser transacionado, no pico da febre, por 20 vezes o salário médio anual de um artesão ou três vezes os rendimentos médios anuais de um comerciante! Para os profissionais da especulação este esquema rendia 350 a 500% em apenas nove meses, enquanto o negócio das especiarias das Molucas, com todos os riscos que comportava, não renderia mais que 400% em dois anos. Os bolbos não eram encarados como futuras flores de decoração mas como veículos financeiros para especular.
É claro que o que motivou esta loucura não foi a paixão que alguns cultivadores e colecionadores da classe alta nutriam por esta flor exótica que tinha vindo para a Europa a partir da carreira da Índia portuguesa, pelas mãos do governador Lopo Vaz de Sampayo, que a trouxera do Ceilão, ou através da Turquia otomana, onde sultões eram jardineiros exímios. O que atraía os holandeses da média, pequena e microburguesia urbana transformados em floristas e os camponeses cultivadores era o "milagre" de, em sucessivas negociações diárias, arrecadarem ganhos inimagináveis.

Comércio do vento

As promissórias sobre alguns destes bolbos chegaram a vender-se e revender-se 10 vezes num só dia - um sistema de alavancagem inacreditável para a época, em que ainda não havia uma tecla de computador para dar uma ordem em menos de um segundo. Batizaram este negócio, muito apropriadamente, "comércio do vento". Recorde-se que esta especulação milionária decorria num canto das tabernas ou hospedarias, num frenesim, entre bebedeiras de cerveja e prostitutas - era um esquema financeiro puramente informal.
O estouro começaria, sem pré-aviso, numa "terça-feira negra", a primeira de Fevereiro de 1637 - a quebra de preços foi mais rápida e abrupta do que qualquer outro crash financeiro da história subsequente. A quebra entre Fevereiro e Maio de 1637 foi de 95 a 99%, incomparavelmente mais do que a derrocada do índice Dow Jones atualmente (mais de 50% em 20 meses) ou na Grande Depressão (quase 90% em quatro anos).
O que valeu a esta bolha holandesa e ao estouro subsequente é que tudo decorreu "quase como numa redoma", frisa Mike Dash, que se surpreendeu com o caso quando o estudou para escrever "A Febre das Tulipas", mais um dos seus livros sobre comportamentos extremos das pessoas, a sua especialidade literária. "Acabou por nunca ser uma mercadoria transacionada na bolsa de Amesterdan, não tendo contaminado o sistema financeiro formal. A bolha estava muito localizada e não contagiou o resto da econômia real ligada à expansão nas Índias", sublinha Dash. "A bolha morreu, mas curiosamente a Holanda acabaria por desenvolver um nicho na floricultura e tornar-se-ia o pólo internacional", conclui o escritor.

Texto de.: Jorge Nascimento Rodrigues*
Jornal Expresso/Lisboa
Foto.: Pesquisa Google

*P.S.: Algumas palavras adaptei para o português do Brasil!

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